Um dos maiores motivos da frequente troca de equipamentos por parte dos fotógrafos é a busca por imagens mais limpas com ISOs elevados. A cada novo lançamento, os desenvolvedores buscam aprimorar a eletrônica das câmeras fotográficas em busca da menor incidência possível de ruído em altas sensibilidades.
Porém, para a grande maioria dos fotógrafos, trocar de câmera a cada lançamento é uma realidade bem distante. Pensando nisso, resolvi buscar uma alternativa. Não chega a ser a salvação da pátria, mas pode dar um fôlego extra para quem ainda não pretende quebrar o cofrinho e contar todas as moedas para adquirir um novo brinquedo.
Antes de saber como regular sua câmera para gerar menos ruído, é importante entender um pouco o processamento de imagens interno. Traduzindo para uma forma bem simples, o processo de formação da imagem passa por duas etapas: captura (sensor) e processamento (processador de imagens).
Na captura, o sensor da câmera, formado por uma determinada quantidade de pixels, recebe a informação luminosa que passa pela objetiva.
Cada sensor possui um valor de sensibilidade ideal, normalmente o menor número apresentado pela câmera. No caso da Nikon D300, por exemplo, este valor é 200. Abaixo ou acima disso, tudo é feito pelo processador de imagens.
Neste ponto, a densidade de pixels do sensor é fator determinante para a qualidade final da imagem. Na Nikon, por exemplo, existem dois sensores bem conhecidos: DX e FX. A diferença entre eles está basicamente no tamanho e, consequentemente, na densidade de pixels.
Para tornar a leitura mais fácil, segue uma analogia:
Peque 10 palitos de dente e coloque em uma caixa de fósforos. Agora, peque os mesmos 10 palitos e coloque em uma caixa de sapatos.
Os 10 palitos estão presentes nos dois casos, mas com muito mais espaço entre eles na caixa de sapatos.
Voltando ao tema, a caixa de fósforos é o sensor DX, a de sapatos o FX. Os dois, com a mesma resolução, possuem a mesma quantidade de pixels, mas com densidades diferentes. E quanto maior a densidade, neste caso, menos informação cada pixel capta. Com densidade menor, no caso do sensor FX, cada pixel consegue captar uma quantidade maior de informação luminosa.
Posteriormente, um processador de imagens com um software específico, processa essas informações captadas por cada pixel e aplica uma série de algoritmos para gerar a imagem final.
E é justamente nesta segunda etapa onde podemos interferir para conseguir resultados melhores com sensibilidade elevada.
E o ruído?
As informações repassadas pelo sensor nem sempre são completas. Muitas vezes, nas áreas de baixa luz, os pixels não conseguem captar nenhuma informação. O resultado são falhas que precisam ser preenchidas para que a imagem não tenha, literalmente, buracos. Programado para fazer isso, o processador de imagens simplesmente preenche tais falhas com um valor aproximado aos pixels adjacentes. Como o valor não bate exatamente com a informação que deveria estar ali, o resultado são pontos de cores diferentes, ou, traduzindo, o ruído.
Quando aumentamos o ISO além do ideal (200, na D300, por exemplo), não estamos aumentando a sensibilidade do sensor, mas pedindo ao processador de imagens que acrescente ganho às informações. Algo parecido com o ajuste de brilho do Photoshop. Isso amplia a informação das áreas bem iluminadas e facilita a captura com baixa luminosidade, mas o ganho também é aplicado às falhas, e o ruído torna-se ainda mais evidente.
Nos sensores FX, como cada pixel capta mais informação em virtude da menor densidade no sensor, ao subirmos a sensibilidade ISO o processador tem mais informação para trabalhar, e o ruído fica bem menos visível. Nos sensores DX ocorre o inverso. Como a quantidade de informação é menor não há como esconder tanto o ruído, bem mais pronunciado.
Eis que surge outro parâmetro: a nitidez.
A grande maioria das DSLRs tem controles específicos de nitidez, contraste e saturação. É importante destacar, no entanto, que isso não afeta em nada o trabalho do sensor. O sensor vai captar a informação luminosa da mesma forma, independente da regulagem. O que muda com a utilização desses controles é a forma como estas informações serão processadas pela câmera.
Por natureza, temos o costume de aumentar ao máximo a nitidez proporcionada pelas regulagens da câmera, em busca de mais nitidez da imagem final. A regulagem deste parâmetro não altera a captação física, mas indica ao processador de imagens quanto ele vai aplicar de contraste entre os pixels adjacentes, para dar a ‘impressão’ de maior nitidez.
Porém, ao regularmos uma nitidez maior, esta também é aplicada aos pixels inseridos pelo processador de imagens para cobrir as falhas de informação vindas do sensor, o que evidencia ainda mais o ruído.
E aqui vem a saída: reduzindo as variáveis da câmera para quase zero, temos uma imagem mais bruta, com muito menos interferência do processador de imagens. Posteriormente, tais alterações podem ser aplicadas na edição, na medida do fotógrafo, para obter resultados melhores e mais limpos em sensibilidades mais elevadas.
Qual a lógica disso tudo?
O processador de imagens da câmera tem um software que não recebe atualizações constantes. Com uma imagem mais brutas, parâmetros como redução de ruído, nitidez e contraste podem ser feitos posteriormente, em softwares mais atualizados, com algoritmos melhores, e o resultado será superior.
Vale lembrar que tudo foi feito em JPEG. No formato RAW, o resultado pode ser ainda melhor. Apesar do RAW ser um formato ‘bruto’, alguns parâmetros são aplicados pela câmera. No Lightroom, por exemplo, não há como baixar a nitidez além do mínimo pré-estabelecido pela câmera. A vantagem do RAW, juntamente com estas regulagens acima explicadas, é a possibilidade de ajustes ainda mais finos, já que a informação captada pelo sensor foi muito pouco alterada.
Fonte fotografia-dg.com